segunda-feira, 19 de outubro de 2009
(((extetika trágica)))
"Eis a beleza da tragédia: mostrar que as cercas não podem evitar os encontros, ainda que estes sejam tristes. Mostrar que enquanto existirem cercas haverá também o ódio, e que este ódio culminará, inevitavelmente, no encontro, ainda que fatídico, dos corpos. Eis a beleza da tragédia: mostrar que muros não separam homens. E que homens, embora separados por cercados, estarão reunidos, ainda que pelo ódio, um no outro."
Texto: caio poeta
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esse Caio é bom, rapaz!
ResponderExcluirHum, dizem que todo Caio é bom...
ResponderExcluirTalvez, o cercado tenha mais sentido trágico do que o próprio encontro que ele funcionalmente evita. Assim, a vontade de romper o cercado pode representar a antítese da tragédia.
ResponderExcluirOu, ainda, talvez, a virtude do entrincheiramento do cercado neutralize a potencialidade da tragédia, tanto para quem está dentro, quanto para quem se situa fora do linde que separa os espaços e os sujeitos relativos a um possível encontro trágico.
Enfim, salvo o melhor juízo, o encontro da tragédia atrela-se mais ao sentimento de frustração do que ao de insatisfação do sujeito empecilhado pelo cerco.
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ResponderExcluirA tragédia não nasce do encontro. O cercado é que é o motor, a origem da tragédia...
ResponderExcluirAchar que homens são separados por cercas (raça, nacionalidade, classe, credo, etc.) é que dá a alguns indivíduos a noção de uma verdade/identidade que, não sendo a de todos, traz ainda, a esses indivíduos, outra noção que é a de “ódio” e “compaixão”. São esses indivíduos que costumam se investir de poderes para, num impulso sempre violento, assujeitar outras potências - seja por meio da compaixão, seja por meio do ódio. Sim, pois quando se crê na grande verdade (seja ela a de uma nação, a de um credo, a de um partido), se torna muito fácil e, não obstante, imprescindível a negação do outro. E negar o outro implica necessariamente em ódio e/ou compaixão: ódio para com aqueles que não se assujeitam e compaixão para com aqueles a quem se almeja assujeitar. A explosão do trágico se dá no encontro, contudo, de nenhum modo, a tragédia é produzida dentro dele. A tragédia origina-se anterior ao encontro, é a produção desse cercado/identidade/verdade que se configura em tragédia, pois, sempre que é admitida a existência de uma verdade absoluta, de uma identidade que precisa ser respeitada (temida), vestida e jamais contrariada, um cercado que não deve jamais ser ultrapassado, o homem se afasta do outro por meio do ódio e/ou da compaixão. E é pelo afeto produzido neste ódio que, ao encontro (movimento da vida), dá-se a fatalidade sobre os corpos... Quer dizer... eu acho...
Caio
Com efeito, o "encontro" em séria discussão significaria o fato do partilhamento de verdades diversas sob o império do regime do respeito recíproco. Todavia, enquanto houver o móvel/motor do fazer cercar o outro, os possíveis encontros continuarão relegados e substituídos por "choques" ou "tensões" de magnitude trágica entre os sujeitos detentores de verdades em estado de descompatibilizamento pela gana de concentrar o poder.
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ResponderExcluirSim, são esses cercados, essas instâncias fundadoras de segregação, que produzem, nos indivíduos, obediência, e vez que são elas também as fundadoras do “bem” e do “mal”, do “certo” e do “errado” e, desse modo, de um Estado (poder), de uma moralidade, não obstante, torna-se fácil entender a linha de causalidade do evento chamado de “tragédia do tamanduá”. Numa sociedade onde a moral apregoava que a vingança era o único caminho para o respeito, e tendo em vista que, aos olhos dessa mesma moral, os envolvidos nessa tragédia eram todos “bons” (já, aos olhos da nossa, todos “maus”), é de fácil concepção que a estes indivíduos restasse, apenas, o caminho da vendeta – fatídico encontro. A tragédia do tamanduá, nesse respectivo ponto, acena, inevitavelmente, para os nossos dias, pois vivemos ainda sob o signo de uma moralidade que, embora se almeje outra, continua a gerar violência no seio do mundo...
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ResponderExcluirExistirão muitas cercas, vivas ou mortas...existirão, porque acabamos de ver aqui que as idéias nos aliena.
ResponderExcluirExistirão muitas cercas vivas ou mortas.
O poder é um estopim.
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ResponderExcluirJulgar uma moral melhor que a outra redundar-se-ia na imposição do cercado em busca de dominação, seja pela força do impingimento ou da persuasão. O "bom" e o "ruim" selecionados como referência ou princípios axiomáticos pelo padrão moral eleito por um corpo social tem, como último objetivo, o controle dos indivíduos, a manutenção da ordem sob a qual esses indivíduos atuam e devem prestar obediência aos valores morais que sustentam essa ordem vigente. Enfim, o discurso da paz, infelizmente, tem sido sempre proferido por aquele que está perdendo a guerra. Ao mesmo tempo, emerge a questão da covardia, considerada um vício ou antivirtude tergiversado por quem está ganhando a trágica guerra...
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ResponderExcluirA moral, independentemente da época, separará sempre o corpo daquilo que pode. Separará homens. Desse modo, de fato, não existe uma moral "boa" e uma moral "ruim", a moralidade, seja ela qual for, apontando seja em que sentido for, é sempre um entrave à vida, à autonomia dos indivíduos. E a moral que hoje dita que a vingança é algo terrível (embora faça sempre uso dela, sob justificativas as mais nobres), produz violência e perversidade como nunca outra o fez... Em suma, o que deve gerir as relações é o éthos, a ética - não essa ética que é discutida na sociedade de então -, mas a ética de Espinoza, a ética que está para os encontros, que é intersubjetiva, intercorpórea, inconceituável, que se define no entre, nos encontros.
ResponderExcluirCaio
O cercado da ética é um ideal a perseguir, mesmo inobstante a sua potencial tônica utópica, porque esse limite corresponde, com rigor, ao efeito do mútuo respeito colocado em prática, é dizer, o respeito resultante do encontro intersubjetivo, fundado no que Kant denominou de "imperativo categórico", traduzido pela máxima "não fazer ou desejar a todos o que não queira que todos desejem ou façam contra você". A moral última, enfim, contorna-se pelo valor da alteridade, da consideração ao outro, ao próximo, independentemente da diferença. Logo, significa dizer que no percurso do exercício do comportamento ético está presente o que é acepcionado como bem ou como virtude. Basta olhar para fora e perceber. Ou, para dentro, se preferir.
ResponderExcluirJoão, temos que parar num bar, qualquer hora dessas.
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ResponderExcluirNo Tamanduá uma tragédia
ResponderExcluiras vísceras expostas na terra,
na terra sertão da ressaca,
de porre a vendeta sertaneja.
A terra em jogo,
o jogo do poder,
conflitos nos confins da terra,
é o poder que está em jogo.
Vive neste mundo que pode,
quem não pode padece então,
por lhe ter sido arrancado o poder
de poder sobreviver neste chão.
O cerco fechado,
os tiros trocados,
um tratado de paz imaculado.
A paz é então conflito mistificado,
seja recurso diante da morte,
seja discurso de quem mata
sem querer ser morto.
O anjo da morte abriu fogo
após nove meses catando galhos,
juntando mocós sanguinários
para lenhar o santo lenho odiado.
Em meio gritos e disparos,
em meio corpos esquartejados
é aberto o corpo fechado.
Nas mãos da mãe seu coração,
dois filhos em seu leito,
amarelos de febre, enfermos,
não padeceriam de febre porém.
Nas mãos do mandante um mandato,
carregava a morte
na intensão de seu ato?
Frente ao temor do destino esperado,
um estrondo do chumbo atirado.
Nas mãos da mãe
corpos em sangue lavados,
corpos no lombo do animal,
jogados no chão,
a porta do cemitério.
No chão a vaca tombada,
de seu tombo pinga a gota d'água,
o bastante para o ódio que transborda,
pois basta o primeiro pingo
para se abrir as torneiras da enchorrada.
O trovão é um estalo entre facas,
é o nó dado em pingo d'água,
uma vez que atou para morte
o destino do ferido e dos fugitivos.
Na terra um cerco fechado,
famílias separadas, entrincheiradas,
de um lado o tamanduá,
do outro paus e espinhos,
embora inimigos, vizinhos,
opostos em seus mesmos interesses.
Onde é pouca a farinha,
pirão é servido na mesa
de quem pode.
Em terra onde não reina
a realeza imperial,
para que está por baixo
a moral é imoral,
para quem está em riba
a moral é a lei,
a família é o tribunal
e o patriarca o juiz.
No principio
o princípio da vida é a existência,
tudo gira em torno do que existe,
as pessoas constroem suas vidas
no sentido de assegurar e justificar
sua existência.
Essa é a base da moral, do poder,
da lei, da fé, da cerca,
da fazenda, do tamanduá,
do pau e do espinho,
das famílias, dos conflitos,
da diligência, da vingada carnificina,
da tragédia do tamanduá.
Eis um sentido pra morte da vaca.
Na tentativa de retomar a inteligibilidade do conteúdo do texto em discussão, ouso afirmar que a sociedade, no seu sentido ontológico, foi constituída ou inventada por meio do cercamento, da submissão de determinados grupos em virtude da soberania de outros agrupamentos de clãs, conformando, enfim, uma grande pluralidade de famílias a serviço de outras em estado dominante. Em certa medida, esse arrebanhamento forçado sobrecarrega em muitos o desejo de se desfazer da "coesão" que os foi imposta. A partir dessa premissa pode ser compreendida a ideia segundo a qual uma massa vertiginosa de pessoas adota essa postura "dissocializante" e individualista porque cada uma delas foi inserida automaticamente na sociedade sem a manifestação de seu consentimento. Ou seja, já nasceu coagida a aceitar aquele contrato social dotado de uma ordem cultural, política e econômica, independentemente de sua vontade. Desde os primórdios, o "homo sapiens" reserva em si a natureza "atomicizante" de seu comportamento, como se fosse, numa linguagem analógica, átomos que se colidem e se ricocheteiam uns com os outros até que, possivelmente, possam se combinar. A combinação não é regra. Essa ideia é uma mera interpretação/ codificação de quem observou o fenômeno. Da mesma forma, a combinação entre os indivíduos nunca foi um imperativo natural, senão uma própria justificativa de quem quis que assim fosse em favor ao padrão estabelecido. O entrave disso tudo é que o Estado tem a contumácia de impingir a seus onerados (=membros da sociedade) a importância do liame entre eles próprios e eles conjuntamento com o Estado, mas tudo dentro de uma ótica (traduzida por um ordenamento normativo de conduta) implementada para assegurar a continuidade do poder diante das imposições acatadas e postas em observância por todos esses seres exortados a acreditar que são dependentes da soberania de outros.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirMais uma contribuição...
Penso eu que a própria origem da desigualdade é anterior ao cercamento das terras, vide Inglaterra, por exemplo, onde os cercamentos se deram pouco antes da revolução industrial. Antes disso as terra eram "comunais" mesmo que inseridas na lógica desigual do feudalismo. Mesmo aqui na chamada América onde já existiam sociedades de classes (Incas, Astecas...) não existia a propriedade privada da terra. Penso que o gênero humano, como o concebo, tem uma origem mais remota que na desigualdade social, penso que o "grande salto" da humanidade se dá no momento que os ancestrais do homo sapiens passaram a interagir com a natureza a partir de um ato teleológico (reflexão + ação), passou a resinificar as coisas a seu favor. Uma pedra lascada, por exemplo, não deixou de ser pedra para se tornar uma ponta de lança. A interação objetiva e subjetiva com o mundo, creio ser essa a nossa raiz ontológica, essencial. Para não correr o risco me tornar enfadonho nessa discussão atirarei alguns versos em nossa conversa, que a muito me apetece seu caráter tão profundo... =]
Água mole pedra dura
ResponderExcluire a chuva muda de lugar,
buscará, na certa, terras férteis,
sementes plantadas,
só mentes aladas,
somente, mas não só.
Se instala nas raízes mais profundas
que não lhe façam passar direto
terra a dentro
como se ali não tivesse passado.
Terra seca mesmo quando molhada
permanece seca e rachada.
No princípio, na água,
não havia vivo nada,
até que na água nada a vida
que um dia salta terra firme.
Tenta alcançar os céus,
se levantam as árvores,
até que das árvores desce a terra
o macaco cabeçudo,
se levanta e avista o mundo,
mundo transforma,
transforma mundo,
se transforma em ser sabido,
mesmo ainda sendo tolo.
Faz coisas
dessas que antes não se via,
as coisas o fazem ser
o que antes não existia.
Lasca a primeira pedra fundamental
e nela funda sua história,
foi tão fundo, tão fundo,
que se tornou profundo,
tão profundo para si,
até então,
que se sentiu vazio,
viu novas possibilidades,
criou necessidades,
e dessas necessidades
foi tocado por uma vontade:
a busca.
Via as coisas e explicava,
erra, acerta, acerta e erra,
aponta o dedo e diz onde é,
sente as coisas e busca sentidos,
cria símbolos para entender a vida,
faz os símbolos
sua imagem e semelhança.
Cria o ser ideal
e o faz seu criador,
pinta seu dia-a-dia em paredes
pois se contagiou pela vida,
cada vez mais se relacionava com ela,
se tornaram amantes,
e dessa relação nasce uma filha
que se chamou consciência.
Consciência cresce a medida
que seu criador fortalece
suas relações com a vida.
O que estava a seu alcance ele fazia
e assim ele se fez
e criou sua cria, a filha.
A senhorita nasceu e morreu
várias vezes,
sempre que seu pai morria,
mas cada vez que renascia
tinha um novo pai,
era uma nova filha,
até que um dia notou
que tinha também uma mãe,
a vida.
Sua mãe era também mãe de seu pai,
mas o pai-filho, que não era Édipo,
transou com a mãe,
da relação pariu a filha.
Ao responder o enigma
da esfinge (para não ser devorado)
notou então que a resposta
era ele mesmo,
não o criador que criou para si,
percebeu que ele era sua própria raiz,
se criou, criou sua filha,
tinham uma mãe em comum:
a vida real.
Neste momento tudo
ficou tão claro
que percebeu algo notável:
o quão tolo ainda era.
Percebeu contradições.
Tinha agora
um enorme problema nas mãos,
maior que todos
que outrora havia encontrado.
Durante vidas organizou suas lutas,
tinha esperanças e sonhos,
buscou novas explicações,
buscou se entender,
voltou as paredes que um dia pintara
para encontrar a origem
de seu problema.
Mas por mais que crescesse
seu problema também crescia,
subiu tão alto que tombou
várias vezes,
e após tantas derrotas
chorou.
Desanimo,
claro, não é feito só de razão,
também chora,
por mais que tenha respostas
ainda tem dúvidas,
por mais forte que se torne
ainda se sente fraco, inseguro,
é confuso, tem medo.
Teme e de vez em quando
esconde-se do problema
por não conseguir resolvê-lo,
dá um tempo.
Quanto tempo?
A pedra não furou,
mesmo que muito
a água tenha batido,
sentiu raiva da pedra
e pensou várias vezes
em atirá-la no fundo de um rio.
Não o fez.
Cavou um buraco no chão
e plantou a pedra no fundo do peito.
A regava com todo sangue que tinha
para que a pedra
se tornasse uma semente,
broto, muda, planta,
a árvore mais alta do mundo.
Plantou
e esperou que nascesse por si só,
esperou tanto que não nasceu.
Passou a reclamar da situação,
lamentava a apatia das coisas,
se alto flagelava
para não se sentir culpado,
via nas barreiras da vida
uma explicação para sua incapacidade,
mesmo quando esta desculpa
por vezes não cabia,
se cansou de problemas
até que chegou o momento
que passou a se esconder
por trás do silêncio.
O silêncio se tornou ensurdecedor,
esperar uma carta que não chega
é doloroso em demasia,
pois ainda o que mais incomoda
o macaco cabeçudo
é sentir que as vezes
continua sendo um tolo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirE na profundeza absoluta do silêncio, o macaco cabeçudo escutou a mais pura verdade: a invariável ilusão do poder de sua consciência.
ResponderExcluirO cão ladra
ResponderExcluirO bode berra
A onça rosna
O gavião crocita
A mosca zune
O homem mente.
E se esta pura verdade for, não uma ilusão, mas uma consciência iludida?
ResponderExcluirE se esta consciência, ao invés de buscar se basear em sua concretude histórica, procurou em si própria uma explicação para a vida?
Se o que o homem tem de mais essencial é a capacidade de mentir, essa pura verdade é também uma mentira?
A capacidade de mentir é por acaso? Por acaso anula a possibilidade de se descobrir? De descobrir o mundo de que faz parte? De tornar-se cada vez mais consciente do que faz?
Afinal, o que entendemos por consciência?