geografia e história

domingo, 25 de julho de 2010

sobre a "Tragédia do Tamanduá"


É mister dizer que não se trata apenas de uma tragédia encenada no passado, mas que seus espaço e tempo são construções em movimento constantes. Isso quer dizer, que embora possamos refletir a respeito de um fato - histórico ou não - passado, de nada adianta se não pudermos conectá-lo ao presente. Só falamos ou nos remetemos a um fato passado se ele estiver em clara conexão com o presente. Não sei se penso que por propensão genética ou por uma teleologia metafísica. Só sei que é isso que constato, e, tenho que admitir - não sem um pouco de peso -, que sinto instintivamente, quando ouço histórias de nossos antepassados.

Visto que esta tragédia aconteceu há pouco mais de cem anos, admito a materialidade - ainda por uma intuição instintiva (?) - das conexões feitas. Infelizmente, por fazer tão pouco tempo, e por ser ainda tão arraigadas as obrigações com que se cumprem certas convenções sociais, tenho que me precaver, e tentar precaver a todos aqueles que uniram-se ao processo de feitura desse documentário-ficcional (e que só tomou pra si tudo aquilo que era puramente experimental). Se de cárater experimental eu visto uma carapuça, logo todos poderão pensar que é só uma censura, ou ataque descontrolado. Mas se dela me aproprio, sentindo com o auxílio da experiência, sua construção passa ser então a única válvula de escape - legal, devo advertir. A arte a única forma de expressar-se; sem tombarmos mortos - necrosados pela espera infinita da morte -, ou abatermos o mal, esperando depois a morte junto à consciência. Nem matar nem morrer. Mostrar o espelho através do próprio espelho onde vimos refletidas nossas demoras. nossas demórias.. nossas demolidas memórias, e nossa história criada.


Hoje, dia 9, é o lançamento do documentário. Hoje também foi o enterro de um colega. Não podemos dizer o que aconteceu com ele. Quando foi encontrado estava desacordado. Passou 18 dias em coma e faleceu ontem. Ele era o único que poderia dizer algo.


Então digo que cresce, junto com a modernidade que vem pra cá, alarmantemente a violência. Que o crack, como em outras partes do Brasil, está arrasando com a reputação dos Caps que prestam ajuda, e matando inocentes e não-inocentes.
É deseperador ver de tão perto. É muito simples ser um retirante. Meus avós eram retirantes. Mas é mais difícil ficar e combater a fome com fome. É incrivelmente desolador estender a mão e a ajuda nunca chegar. É inapropriado, pra não dizer vergonhoso ver o modo como se comporta a política local. Que pensa que trazendo somente polícia especializada acabará (ou só então continuam a tentar nos ludibriar) com a desordem, miséria e exclusão social.

De modo experimental, penso, é o único modo de se fazer arte, pelo menos aqui. Diante de tantas adversidades, diante de costumes desencorajadores, temos que forçar as vistas para não fecharem de vez e forçar a boca a não se calar, às vezes.

É necessário ainda fazer da arte um caminho experimental para que ela se coloque acima de nossas próprias demandas pessoais, pra que ela não seja distorcida e invadida.


Eleni Kouklanakis

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